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Monstro: A História de Ed Gein – A Verdade e a Mentira por Trás da Nova e Polêmica Série da Netflix

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Monstro: A História de Ed Gein – A Verdade e a Mentira por Trás da Nova e Polêmica Série da Netflix

Após o sucesso estrondoso e controverso de Dahmer: Um Canibal Americano, a antologia Monstro de Ryan Murphy e Ian Brennan se consolidou como um dos pilares mais sombrios e fascinantes da Netflix.

A série não apenas dominou as conversas e as paradas de audiência, mas também reacendeu um debate acalorado sobre a ética de dramatizar crimes reais, a glorificação de assassinos e a linha tênue entre a exploração e a análise psicológica.

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Agora, a franquia se prepara para mergulhar em um capítulo ainda mais primordial e perturbador da história criminal americana, anunciando que sua nova temporada será focada em Ed Gein, o “Carniceiro de Plainfield”. A escolha é, ao mesmo tempo, genial e profundamente problemática. Gein não é um serial killer no sentido tradicional, como Dahmer ou Gacy.

Ele é algo diferente, algo mais estranho. Ele é o pesadelo rural, o arquétipo do monstro que se esconde sob a fachada do vizinho quieto e inofensivo.

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A história de Ed Gein é menos sobre a quantidade de suas vítimas e mais sobre a qualidade de sua depravação. Suas ações foram tão grotescas, tão além da compreensão, que ele se tornou a matéria-prima para alguns dos maiores vilões da história do cinema, inspirando diretamente personagens como Norman Bates de Psicose, Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica e Buffalo Bill de O Silêncio dos Inocentes.

Ao decidir contar a história real de Gein, Ryan Murphy não está apenas adaptando mais um caso de crime; ele está escavando a própria fundação do terror moderno. A nova temporada de Monstro promete ser uma viagem ao coração das trevas da América rural, uma exploração psicológica do isolamento, da repressão e da loucura.

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Mas, ao fazer isso, ela também caminha em um campo minado ético, forçando-nos a perguntar: é possível contar a história de Ed Gein sem se deleitar em seu horror? E o que a verdade por trás do mito nos revela sobre nós mesmos?

A Verdade: Quem Foi Edward Theodore Gein?

Para entender o desafio da série, é preciso separar o homem do monstro, a verdade da ficção que ele inspirou.

  • A Infância em Plainfield: Ed Gein (1906-1984) viveu uma vida de isolamento quase total em uma fazenda em Plainfield, Wisconsin. Sua infância foi dominada por duas figuras: um pai alcoólatra e ineficaz, e uma mãe, Augusta Gein, que era uma fanática religiosa luterana. Augusta desprezava o mundo exterior, acreditando que ele era inerentemente pecaminoso, especialmente as mulheres. Ela pregava constantemente para seus dois filhos, Henry e Ed, sobre a imoralidade e a devassidão, isolando-os na fazenda e lendo para eles passagens violentas e sangrentas do Velho Testamento.
  • Uma Relação Doentia: Ed desenvolveu uma relação de dependência doentia com sua mãe. Ele a idolatrava e temia, e internalizou completamente sua visão de mundo misógina e puritana. A série certamente explorará essa dinâmica como a chave para a psique de Gein. A influência de Augusta não foi apenas psicológica; foi a força que moldou ativamente o monstro que ele se tornaria.
  • A Morte e o Isolamento: A vida de Gein desmoronou em uma série de perdas. Seu pai morreu em 1940. Em 1944, seu irmão Henry morreu em um incêndio misterioso (há suspeitas de que Ed possa ter tido envolvimento, embora nada tenha sido provado). Finalmente, em 1945, sua amada mãe Augusta morreu após um derrame. Aos 39 anos, Ed Gein estava completamente sozinho no mundo, preso na fazenda isolada com as memórias e os ensinamentos de sua mãe. O isolamento total foi o catalisador final para sua descida à loucura.
  • Os Crimes: Necrofilia e “Artesanato” Macabro: Aqui é onde a história de Gein se torna verdadeiramente grotesca. Sozinho, ele começou a desenvolver uma obsessão por anatomia feminina e por “recriar” sua mãe. Ele começou a visitar cemitérios locais à noite, exumando corpos de mulheres recém-falecidas que se pareciam com Augusta. Ele levava os corpos (ou partes deles) de volta para sua fazenda. O que ele fazia com eles é o material de pesadelos. Ele dissecava os corpos, curtia a pele e usava os restos mortais para criar objetos domésticos. Quando a polícia finalmente entrou em sua casa em 1957, eles encontraram um cenário de horror indescritível: tigelas feitas de crânios, abajures e estofados de cadeiras feitos de pele humana, um cinto feito de mamilos, leggings feitas de pele das pernas e, o mais infame, um “traje de mulher” completo, incluindo uma máscara feita do rosto de uma mulher, que ele usava para “se tornar” sua mãe.
  • Os Assassinatos: Apesar de sua reputação, Ed Gein foi confirmado como o assassino de apenas duas mulheres: Mary Hogan, a dona de uma taverna local, em 1954, e Bernice Worden, a dona de uma loja de ferragens, em 1957. Foi o desaparecimento de Worden que levou a polícia até a fazenda de Gein. Eles encontraram seu corpo decapitado e eviscerado, pendurado de cabeça para baixo no celeiro, como um cervo. Foi a investigação desses assassinatos que revelou o horror maior de suas atividades como ladrão de túmulos.

A Mentira: O Mito que Gein Inspirou

A história de Gein é aterrorizante por si só, mas a cultura pop a amplificou e a distorceu, criando mitos que muitas vezes superam a realidade.

  1. O Serial Killer Canibal (Leatherface):O Massacre da Serra Elétrica pegou o elemento de “artesanato” macabro de Gein – a máscara de pele, os móveis de osso – e o fundiu com a ideia de uma família de canibais assassinos. Gein não era parte de uma família de assassinos (ele era um solitário) e, embora houvesse suspeitas, nunca foi provado que ele praticava canibalismo. A série da Netflix terá o desafio de separar o horror real de Gein da ficção sangrenta de Leatherface.
  2. O Psicopata com Complexo de Mãe (Norman Bates):Psicose de Robert Bloch (e a adaptação de Alfred Hitchcock) se concentrou na relação doentia de Gein com sua mãe. A ideia de um homem que mantém o cadáver de sua mãe e assume sua personalidade para cometer assassinatos é uma dramatização direta da psique de Gein. Norman Bates é a versão ficcional mais psicologicamente precisa de Gein, e a série certamente se aprofundará nessa dinâmica.
  3. O Assassino que Veste a Pele de Suas Vítimas (Buffalo Bill):O Silêncio dos Inocentes pegou o aspecto mais perturbador do “traje de mulher” de Gein e o aplicou a Buffalo Bill, um serial killer que sequestra e mata mulheres para criar um traje de pele, em uma tentativa distorcida de transformação de gênero. A série terá que abordar esse aspecto da psicologia de Gein com extremo cuidado, explorando a complexa mistura de luto, obsessão e confusão de identidade que o levou a cometer tais atos.

A tarefa de Ryan Murphy será despir Gein desses mitos cinematográficos e apresentar o homem real, o que pode ser, paradoxalmente, ainda mais perturbador.

Os Desafios Éticos e Narrativos da Série

Contar a história de Ed Gein em 2025 apresenta um conjunto único de desafios.

  • Evitando a Glorificação: Como você conta uma história tão grotesca sem parecer que está se deleitando com o horror? A crítica a Dahmer foi que, apesar de suas intenções, a série tornou o assassino uma figura “cool” e icônica para uma nova geração. Com Gein, o perigo é semelhante. A série precisará manter um foco clínico e sombrio, talvez adotando uma estética visual que seja repulsiva em vez de estilizada, para garantir que o público sinta nojo, e não fascínio.
  • O Ponto de Vista: De quem será a história? Será contada do ponto de vista de Gein, nos colocando dentro de sua mente fragmentada? Ou será contada do ponto de vista da comunidade de Plainfield, as pessoas que viveram ao lado de um monstro sem saber? Ou talvez do ponto de vista dos policiais que fizeram a descoberta macabra? A escolha do ponto de vista definirá o tom da série. Uma abordagem focada na comunidade poderia ser mais eticamente defensável, mostrando o impacto de seus crimes em vez de se concentrar apenas no perpetrador.
  • A Representação da Violência: A série enfrentará um dilema: mostrar ou não mostrar? Mostrar os “móveis” de Gein em detalhes gráficos pode ser visto como exploratório e sensacionalista. Não mostrar pode ser visto como uma higienização da verdadeira extensão de seu horror. A solução provavelmente estará na sugestão, no uso de som, sombra e reação dos personagens para transmitir o horror sem ter que exibi-lo explicitamente, de forma semelhante ao que Hitchcock fez em Psicose.
  • O Diagnóstico Psicológico: Gein foi considerado mentalmente incapaz de ser julgado e passou o resto de sua vida em instituições psiquiátricas. A série tem a oportunidade de fazer uma exploração séria da doença mental, do trauma e do isolamento. Em vez de apenas apresentar Gein como um monstro unidimensional, a série pode tentar entender as forças que o criaram, sem, no entanto, desculpar suas ações. Será uma linha muito tênue para caminhar.

O que Esperar de “Monstro: A História de Ed Gein”

Com base no estilo de Ryan Murphy e na natureza do material, podemos esperar uma série que será:

  • Atmosférica e Opressiva: Espere uma cinematografia que capture a desolação e o isolamento do meio-oeste americano. A paleta de cores provavelmente será fria e dessaturada, e o ritmo, lento e deliberado, construindo uma sensação de pavor crescente.
  • Psicologicamente Intensa: A série provavelmente se concentrará fortemente na relação de Ed com sua mãe, usando flashbacks para construir a base de seu trauma. As cenas entre Ed e Augusta prometem ser algumas das mais desconfortáveis e fascinantes da série.
  • Controversa: Não há como evitar. A série será controversa. Ela lidará com temas de necrofilia, assassinato e profanação de corpos. Será criticada por alguns por ser exploratória e elogiada por outros por sua coragem. Será, sem dúvida, uma das séries mais comentadas do ano.

A decisão de focar em Ed Gein é uma jogada ousada e arriscada de Ryan Murphy. Ele está se afastando dos serial killers “urbanos” e mergulhando em um tipo de horror mais folclórico e primordial. A história de Gein não é apenas sobre um homem doente; é sobre o que acontece quando o isolamento, a repressão religiosa e o trauma não tratado apodrecem em silêncio no coração da América.

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Monstro: A História de Ed Gein tem o potencial de ser uma obra-prima do terror psicológico, uma análise profunda e perturbadora das origens do mal. Mas também corre o risco de ser um espetáculo de horror gratuito.

image-189 Monstro: A História de Ed Gein - A Verdade e a Mentira por Trás da Nova e Polêmica Série da Netflix

O sucesso da série dependerá de sua capacidade de nos fazer entender o homem por trás do monstro, sem nunca nos deixar esquecer o horror indescritível que ele cometeu. Será uma viagem ao inferno, e a questão é se sairemos dela com uma compreensão maior da escuridão humana ou apenas com o gosto amargo da exploração em nossas bocas.

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Apaixonado por filmes, séries e cultura pop. No Telinha e Telona, compartilho análises, curiosidades e novidades do mundo do entretenimento de forma leve e descontraída.

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