Pacificador episódio 4: A Verdade sobre o mundo perfeito e a traição que ninguém esperava
A segunda temporada de Pacificador episódio 4 pisou fundo no acelerador em seu quarto episódio, “Need I Say Door”. O capítulo, que pode ser considerado o mais movimentado e revelador da temporada até agora, não apenas deu continuidade direta ao suspense do episódio anterior, mas também forçou Christopher Smith a finalmente confessar seus segredos, testou a lealdade de seus amigos e preparou o terreno para uma traição que promete ser devastadora. Entre origens místicas para portais interdimensionais e a mitologia bizarra de Eagly, o episódio foi um destaque absoluto.

A trama começa momentos após o final do episódio 3, com a ARGUS cercando a casa de Chris em resposta ao ataque de Eagly. Mas antes do caos presente, um flashback crucial nos leva à juventude de Chris, caçando com seu pai, Auggie, e seu irmão. A cena revela a origem da “porta”: eles encontram um ser alienígena, que Auggie prontamente abate, e descobrem uma chave em forma de maleta que controla o portal. Essa explicação é um toque genial de James Gunn, pois tira a tecnologia do domínio de Auggie e a transforma em um mistério cósmico, tornando o portal ainda mais intrigante.
A Lealdade de Economos e o Retorno do mestre-judô

No presente, a tensão dentro da van da ARGUS é palpável. Economos está preso entre a cruz e a espada, pressionado por seus novos colegas, como Fleury e o caçador de águias St. Wild, e sua lealdade a Chris. Em meio a discussões e desconfiança mútua, ele consegue enviar um aviso codificado para o Pacificador, que usa a chave alienígena para atrair Eagly para fora de casa segundos antes da invasão.
O que se segue é o retorno triunfal do mestre-judô. Ele persegue Chris na floresta, e a luta que se desenrola é um lembrete de sua habilidade. Sem o elemento surpresa, ele quase derrota o Pacificador, que só consegue escapar por um golpe de sorte, nocauteando o pequeno lutador ao cair sobre ele. Enquanto isso, a lealdade de Economos é posta à prova final. Pressionado a abrir a porta na casa de Chris, ele primeiro se rebela, mas depois, ao ser enviado para buscar suas ferramentas, ele arrisca tudo e liga para Chris, ganhando tempo precioso para que seu amigo possa realocar o portal. É um momento definidor para Economos, que finalmente escolhe um lado de forma inequívoca.
A Confissão de Chris e o Papel de Adebayo em Pacificador episódio 4

Com a ajuda de Adebayo, que atua como sua motorista de fuga, Chris consegue levar o portal para a antiga cabana de caça de seu avô. E é nesse momento de vulnerabilidade que a grande revelação do episódio acontece. Chris finalmente desabafa e conta toda a verdade para Adebayo. Ele explica sobre a dimensão paralela, sobre seu eu alternativo que trabalhava com um Auggie amoroso e um irmão vivo, sobre ter matado sua outra versão e assumido sua vida, e sobre seu relacionamento com a Emilia Harcourt daquele mundo.
A confissão revela a verdadeira motivação de Chris, que vai além do egoísmo. Ele não retorna àquele mundo apenas porque sua vida lá é “perfeita”. Ele retorna porque se recusa a decepcionar a outra Emilia e, o mais comovente, porque não suporta a ideia de deixar Keith perder seu irmão novamente. Suas razões, embora nascidas de uma situação bizarra, são surpreendentemente nobres e mostram um crescimento imenso em seu personagem, que agora age por um senso de responsabilidade e amor, não apenas por uma busca distorcida pela paz.
A Traição de Harcourt e o Futuro Sombrio

Enquanto a amizade de Chris com sua equipe se solidifica, outra relação está prestes a implodir. Após o fracasso da missão, Rick Flag Sr. parte para um plano B: recrutar Emilia Harcourt. Ele a procura e confirma o que ela suspeitava: Amanda Waller a colocou na lista negra, impedindo-a de trabalhar em qualquer agência de inteligência. Flag Sr. então lhe oferece uma saída, uma chance de limpar seu nome, com uma condição: ela precisa entregar o Pacificador.
Hesitante, mas encurralada, Harcourt aceita, marcando um encontro com Chris que, na verdade, é uma armadilha. No exato momento em que Economos prova sua lealdade, Harcourt está prestes a cometer a traição final. Essa reviravolta prepara o cenário para um próximo episódio ainda mais dramático e coloca Chris em um perigo que ele não pode prever, vindo de uma das poucas pessoas em quem ele ainda confiava. A segunda metade da temporada de Pacificador promete ser um teste de fogo para o coração e a alma de Christopher Smith.
O Pacificador: A Desconstrução do Anti-Herói na Era da Sátira e do Trauma
Em um cenário saturado por narrativas de super-heróis, onde as fórmulas de bem contra o mal são constantemente revisitadas, a série O Pacificador (Peacemaker), da DC, surgiu em 2022 como um trovão anárquico e inesperado. Criada e majoritariamente escrita e dirigida por James Gunn, a produção é um spin-off direto do filme O Esquadrão Suicida (2021) e se propõe a uma tarefa aparentemente impossível: transformar seu protagonista, um vilão detestável e assassino, em uma figura complexa, digna de empatia e, quem sabe, de redenção.
A Origem: De Vilão Desprezível a Protagonista Relutante
Para entender a genialidade da série, é preciso voltar ao Christopher Smith que conhecemos em O Esquadrão Suicida. Apresentado como um patriota extremista, Christopher Smith é um homem que acredita na paz a qualquer custo, “não importa quantos homens, mulheres e crianças ele tenha que matar para consegui-la”. Sua convicção cega o leva a trair e matar Rick Flag, um dos poucos personagens genuinamente heroicos do filme, para proteger os segredos sombrios do governo americano. Ao final do longa, Christopher Smith é baleado por Sanguinário (Bloodsport) e deixado para morrer, um fim justo para um personagem que representava o pior do idealismo distorcido.
A série começa exatamente onde o filme termina. Uma cena pós-créditos revela que o Pacificador sobreviveu milagrosamente. Ele é recrutado (ou melhor, coagido) por uma nova força-tarefa de operações secretas, liderada por Clemson Murn (Chukwudi Iwuji), para uma missão chamada “Projeto Borboleta”. A equipe é um grupo disfuncional de agentes do governo: a pragmática e durona Emilia Harcourt (Jennifer Holland), o especialista em tecnologia John Economos (Steve Agee) — a quem o Pacificador insiste em ofender com piadas sobre sua barba tingida —, e a novata Leota Adebayo (Danielle Brooks), que coincidentemente é filha da poderosa Amanda Waller.
Completando o “elenco” principal está o parceiro mais leal do Pacificador: Eagly (ou Águia, na versão brasileira), uma águia-careca que o idolatra e o abraça de forma hilária e comovente. A presença do animal é o primeiro indício de que existe algo mais sob a fachada de músculos e preconceitos de Christopher Smith.
A Trama: Invasão Alienígena e Conspirações Pessoais
A missão principal da série é caçar e exterminar as “Borboletas”, uma espécie alienígena que secretamente invade corpos humanos, assumindo o controle de suas vidas. A premissa, que remete a clássicos da ficção científica como Vampiros de Almas (Invasion of the Body Snatchers), serve como um pano de fundo perfeito para a ação e o mistério. No entanto, a verdadeira genialidade de James Gunn está em usar essa trama de invasão para forçar o Pacificador a confrontar seus próprios demônios.
Enquanto a equipe tenta desvendar a conspiração alienígena, Christopher Smith precisa lidar com uma conspiração muito mais pessoal e destrutiva: a influência de seu pai, Auggie Smith (interpretado de forma magistral e aterrorizante por Robert Patrick). Auggie não é apenas um pai abusivo; ele é o Dragão Branco, um líder supremacista branco, racista e misógino que moldou seu filho desde a infância para ser uma máquina de matar. Ele é a fonte de todo o trauma, de toda a ideologia tóxica e de toda a dor que definem o Pacificador. A “paz a qualquer custo” de Christopher, descobrimos, não é uma filosofia própria, mas um dogma brutalmente inculcado por um monstro.
A série habilmente entrelaça a luta contra as Borboletas com a luta interna de Christopher Smith para se libertar do legado de seu pai. Cada decisão que ele toma, cada momento de hesitação e cada lampejo de humanidade são atos de rebelião contra a programação mental que sofreu por toda a vida.
A Desconstrução da Masculinidade Tóxica
O tema central de Peacemaker é, sem dúvida, a desconstrução da masculinidade tóxica. Christopher Smith é o arquétipo do “machão”: musculoso, obcecado por rock dos anos 80 (especificamente o hair metal), bifóbico, misógino e incapaz de expressar emoções que não sejam raiva ou uma confiança arrogante. Suas piadas são ofensivas, seus comentários são preconceituosos e sua visão de mundo é perigosamente simplista.
No entanto, a série não o glorifica. Pelo contrário, ela o expõe. Suas tentativas de ser “legal” são patéticas, suas piadas raramente funcionam e sua armadura emocional é constantemente perfurada pelos outros personagens, especialmente por Adebayo e Harcourt. A série mostra que essa persona de “machão” é apenas isso: uma persona, uma armadura frágil construída para esconder um menino assustado e desesperado por aprovação.
A cena em que ele, sozinho em seu quarto, chora ao som de uma balada de rock, é um dos momentos mais poderosos da série. É a primeira vez que vemos a rachadura em sua armadura, a vulnerabilidade que ele se esforça tanto para esconder. A série argumenta que a verdadeira força não está na supressão das emoções, mas na coragem de enfrentá-las. A jornada do Pacificador é uma jornada para aprender a sentir, a se conectar e, finalmente, a se definir para além da sombra de seu pai.
O Humor Anárquico e a Trilha Sonora Contagiante
James Gunn é mestre em equilibrar o grotesco com o hilário, e Peacemaker é o auge dessa habilidade. O humor da série é vulgar, politicamente incorreto e, por vezes, infantil, mas nunca é gratuito. Ele serve para expor a imaturidade e as inseguranças dos personagens, especialmente do protagonista. As discussões absurdas sobre super-heróis da cultura pop (como a insistência do Pacificador de que o Aquaman “transa com peixes”) ou as trocas de insultos com Economos são momentos de alívio cômico que, ao mesmo tempo, revelam muito sobre suas personalidades.
A abertura da série tornou-se um fenômeno cultural por si só. Ao som de “Do Ya Wanna Taste It” da banda Wig Wam, o elenco principal executa uma coreografia robótica e sem expressão, perfeitamente ensaiada. A dança é bizarra, hipnótica e completamente inesperada. Ela encapsula o tom da série: algo que parece ridículo na superfície, mas que é executado com uma seriedade e um comprometimento que o tornam brilhante. É uma declaração de intenções: “sim, somos absurdos, mas levamos nosso absurdo muito a sério”.
A trilha sonora, como em todas as obras de Gunn, é um personagem à parte. Repleta de bandas de glam metal e hair metal dos anos 80, como Mötley Crüe, Cinderella e Faster Pussycat, a música não é apenas um pano de fundo. Ela é a paisagem sonora da alma do Pacificador. É a música de um homem preso em uma era de excessos e masculinidade performática, mas que, por trás dos riffs de guitarra e das letras sobre festas, esconde uma melancolia e uma sensibilidade inesperadas.
Personagens Secundários que Roubam a Cena
Embora John Cena entregue a melhor atuação de sua carreira, a série não funcionaria sem seu elenco de apoio impecável.
- Leota Adebayo (Danielle Brooks): Ela é o coração moral da série. Como uma mulher negra e lésbica, ela é o oposto de tudo o que o Pacificador representa. Sua amizade improvável com ele é o motor da transformação do personagem. Adebayo o desafia, o confronta, mas também o enxerga com uma compaixão que ninguém mais oferece.
- Vigilante (Freddie Stroma): Adrian Chase, o Vigilante, é um dos personagens mais engraçados e perturbadores da série. Ele é um sociopata completo, que mata sem remorso e não tem nenhum filtro social. No entanto, ele se considera o melhor amigo do Pacificador. Sua lealdade cega e sua completa falta de noção criam um contraponto cômico e sombrio ao dilema moral do protagonista. Enquanto o Pacificador luta para se tornar uma pessoa melhor, o Vigilante está perfeitamente feliz em ser um monstro.
- Emilia Harcourt (Jennifer Holland): Inicialmente apresentada como a agente durona e sem paciência para as infantilidades do Pacificador, Harcourt passa por sua própria jornada. Ela aprende a confiar e a se abrir para a equipe, revelando uma vulnerabilidade e uma capacidade de liderança que a tornam uma personagem complexa e cativante.
- Auggie Smith (Robert Patrick): O Dragão Branco é um dos vilões mais odiosos e realistas do universo DC. Ele não tem superpoderes cósmicos; seu poder reside em seu ódio, em sua ideologia supremacista e no abuso psicológico que infligiu a seu filho. Robert Patrick entrega uma performance arrepiante, transformando Auggie em uma representação aterrorizante do mal que existe no mundo real.
Conclusão: Uma Obra-Prima da Sátira e da Humanidade
O Pacificador é muito mais do que uma simples série de super-heróis. É uma comédia de ação, um drama familiar, uma sátira social e um estudo de personagem profundo e comovente. James Gunn conseguiu pegar um personagem que era a personificação da masculinidade tóxica e do extremismo e, sem absolvê-lo de seus crimes, o transformou em um ser humano tridimensional.
A série nos força a confrontar questões desconfortáveis: é possível encontrar humanidade em um monstro? A redenção é possível para alguém que cometeu atos terríveis? De onde vem o ódio e como podemos nos libertar dos traumas que nos definem?
Com sua abertura icônica, sua trilha sonora matadora, seu humor ácido e suas performances brilhantes, Peacemaker prova que as histórias de super-heróis ainda podem ser surpreendentes, relevantes e profundamente humanas. É uma celebração do bizarro, um lamento pelos quebrados e, acima de tudo, um hino de rock barulhento e glorioso sobre a difícil e dolorosa jornada em busca da paz — não a paz a qualquer custo, mas a paz interior.
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